Neste domingo, dia 08 de agosto, muitos comemoraram o dia dos pais. Pois é, muitos, mas não todos, pois, a maioria sequer sabe o que é ter um pai, e muitos pais não sabem o que significa ser pai, igualmente aos filhos. É a mesma coisa com as datas congêneres, como dias das mães, dia das crianças, natal e por aí vai...
Seria bom que houvesse uma maior reflexão por parte da mídia, muito preocupada com os lucros de seus patrocinadores, pois tais datas tornam-se, irremediavelmente, comerciais, procurasse conscientizar a população acerca do real e significado de cada uma das datas, educando os homens e mulheres para o verdadeiro caráter de ser pai ou mãe, inclusive dos filhos. A conscientização passa por educação, não somente a formal, mas a doméstica, política e institucional, que são precárias ou inexistentes.
Basta sairmos, com todo respeito, do egocentrismo do clã familiar e observarmos ao redor quantas pessoas, no mundo, sofrem pela irresponsabilidade de seus pais e gestores, e, também do Estado, que deveria possuir políticas públicas, no sentido de orientação a população, principalmente as mais carentes, para um melhor controle da natalidade. E sem hipocrisia, uma vez que é muito fácil falar no direito de cada um em saber a hora de gerar um filho, todavia, quando este ser for gerado, é obrigação de quem os gerou manter o sustento, a educação, a orientação para vida, conferindo-lhe amor e carinho, e não, como ocorre, em proporções cada vez maiores, de filhos serem criados (se tiverem sorte), por um parente mais próximo, na grande maioria os avôs. E, neste caso, ao contrário do que pensam muitos, acontece em todas as camadas, principalmente na chamada classe média, onde, apesar da informação, não há, igualmente, muita responsabilidade, inclusive dos mais jovens. Sem contar o despreparo, a falta de amor, de carinho pelo filho, por parte desses “pais” e, aí, infelizmente, não há muito que se fazer em vista de que, não se pode obrigar ninguém a gostar de outro, ainda que seja o seu próprio filho.
Nas camadas mais simples da população, o que ocorre é a total falta de orientação na geração de filhos, refletindo diretamente no contexto social e econômico do país, sem falar nas seqüelas deixadas nas crianças, principalmente aquelas que, não tendo para onde ir, vão para as ruas, e lá, para sobreviver, entram para a vida do crime ou da prostituição.
E a sociedade, sinceramente, nada faz para mudar, muito pelo contrário, contribuem para o aumento, cada vez maior, das desigualdades sociais. Já se procurou refletir para saber o que se passa na cabeça dessas crianças de rua, quando observam outras de mesma idade, dentro dos carros, bem vestidas, com seus pais, ou quando, diante de um restaurante, vêem as pessoas se alimentando, do bom e do melhor, enquanto amargam o sofrimento das ruas, a fome, a violência, e o abandono, pois, sequer sabem quem são seus pais, gerando, unicamente, revolta, sendo o crime, por vezes, a única forma de se “vingarem”. Vingarem, sim, de uma sociedade que permitiu que tudo ocorresse, quando omissa e até certo ponto condescendente. Se aqueles bem criados, e com todas as condições favoráveis, sentem, muitas vezes, revolta, por alguma razão insignificante diante de outras realidades, mas sentem, que dirá os desassistidos e abandonados.
Essas crianças devem pensar: por que nasci? Por que os outros têm pais e eu não? E se formos falar em Deus, indagarão: quem é Deus? Aí, se nos aprofundarmos no sentido de que Deus é o Pai, o Criador do Universo, conforme aprendemos, elas ficarão ainda mais confusas, pois o sentimento de desprezo aumentará sua revolta, uma vez que, se Ele é o pai de todos, pensarão, indagando, por que me deixa viver assim, enquanto os outros vivem e tem uma família, não precisam dormir na rua, não sofrem violência das mais variadas, desde a física, sexual, psicológica, até a do desprezo?
A sociedade é a única responsável, e não Deus, que nos criou iguais, como seres naturais, em direitos e obrigações, e o ser humano tratou de deturpar, pois, se pensarmos bem, as pessoas são capazes de chorar e sofrer por tudo, ou pelo menos é o que dizem, como por um artista que morre e era seu ídolo, mas sequer o conhecem; pelo time de futebol do coração; pela seleção brasileira, ou por um fato, passado na televisão, às vezes muito distante, e que, pela força midiática, as chocam. Até mesmo por uma cena de uma novela ou de um filme, que são meras representações.
Todavia, essas mesmas pessoas, não são capazes de se sensibilizarem por verem, em sua própria cidade, no meio da rua, onde passam diariamente, crianças, (sem falar nos idosos e jovens drogados) sendo violentadas em dignidades, passando fome, sofrendo o que há de pior, como a violência, humilhação, desprezo, e indo direto para a vida do crime. E depois, essas mesmas pessoas, reclamam da violência urbana, se trancam em suas casas, com todo tipo de apetrechos antifurto, como alarmes, câmaras de vídeos, cerca eletrificada, como se tudo aquilo não fosse de sua responsabilidade, quando seria mais fácil exigir providências a quem de direito.
A população, quando quer, sai às ruas para reivindicar de tudo, desde um semáforo até a reforma agrária, todavia, não vai às ruas exigir do poder público que implante políticas públicas em favor dos menores de rua; de políticas voltadas para uma verdadeira revolução educacional, passando, inclusive, pelo controle da natalidade, pelas mudanças de comportamento face às desigualdades sociais.
No caso, é urgente uma política que, retire imediatamente as crianças das ruas, pois que estão em estado de abandono e de risco constante, obrigando os pais, que são seus responsáveis, a assumi-los, e aqueles que não tiverem que sejam levados, não a asilos, e sim a colégios internos, onde possam ali estudar, praticar esporte, se alimentar e dormir decentemente, e, no futuro, devolver a sociedade o que aprenderam, tornando-se verdadeiros cidadãos, e, quando forem pais, saberão, com certeza, dar aos seus filhos, aquilo que gostariam e não tiveram, e alguns até o amor.
O Estado não substitui os pais ou responsáveis, contudo, em casos extremos, como os de abandono, negligência, maus tratos, tem por obrigação amparar o menor, assumindo a responsabilidade, sem esquecer-se de imputar aos pais de conduta incompatível, as penalidades devidas, e não estamos falando de restrição de liberdade, mas de perda do poder familiar com obrigação compulsória de restituir ao poder público, como sociedade, na medida de sua renda, os gastos com o menor. E isso se justifica para impor responsabilidade aos que desejam gerar filho: saber que terão que arcar com os custos, mesmo perdendo a guarda ou o poder familiar, salvo em casos de ser a criança adotada por outros pais, passando estes a obrigatoriedade pela educação. E, se for o caso, o pai ou a mãe não tiverem realmente condições, por circunstâncias involuntárias, como desemprego, por exemplo, resta ajudá-los a que encontrem, novamente, o caminho para criação dos filhos, com todo apoio necessário.
Uma sociedade que comemora datas tidas como “importantes”, sabendo que tantos outros iguais, (pois a ninguém é dado o direito de se achar melhor que outrem), encontram-se em situação de miséria, seja ela moral, espiritual ou fisiológica, pode ser um aglomerado de pessoas, de gente, mas, não uma sociedade, pois, neste tipo de coletividade, o bem geral, como um todo, está acima do individual, e, no caso do Brasil, que se diz seguidor do cristianismo, esse aglomerado pode ser tudo, menos cristão, uma vez que, falam de Cristo, mas não o praticam, pois, segundo Ele, onde está um irmão com fome (e aqui se deve interpretar, não somente como fome material, mas, também, a espiritual), aí Eu estarei.
Nossos irmãos das ruas são parte integrante da sociedade, possuidores dos mesmos direitos, só que, esses direitos, de certa forma, foram subtraídos, quer por seus pais irresponsáveis, ou pelo próprio Estado, que foi omisso. E aqui não há qualquer utopia em se desejar vê-los bem, pois tudo o que fora dito é possível de ser feito, bastando, para isso, que se deixe o egoísmo de lado e se pense no próximo, e não unicamente na própria família, como se o mundo girasse em torno dela, e com vontade política, com P maiúsculo, se consegue. Que tal, ao invés de se construir um parque ou um centro cultural, (nada contra, evidentemente), mas promover a construção de uma grande escola, onde se poderão colocar as crianças das ruas, em sistema integral ou internato, (que não seja creche ou asilo, e sim escola); caso contrário, a sociedade jamais viverá sem violência, pois não se pode querer que irmãos sejam mais filhos que os outros, quando somos de um mesmo pai, que é Deus Universal (de qualquer crença ou religião) e que, com certeza, ao nos dar inteligência e o livre arbítrio, esta força maravilhosa, o Grande arquiteto como o chamam alguns, esperava de nós outra postura, sem preconceitos e discriminações, e sem desigualdades sociais, e isto nos será cobrado quando da prestação de contas. Somente pelo amor, e com amor, se pode mudar, pois é o dom supremo. É HORA DE REFLETIR.
Recife, 08 de agosto de 2010.
Paulo Roberto Alves da Silva
RCR Frei Caneca
Sócio e ex-presidente
Nenhum comentário:
Postar um comentário