domingo, 6 de fevereiro de 2011

DISCURSOS NA ASSEMBLEIA INTERNATIONAL

Companheiros (as), visitantes,

O blog do RCR Frei Caneca tomou a iniciativa de publicar os discursos proferidos durante a Assembleia International de 2011, que aconteceu em San Diego, Califórnia, EUA no período de 16 a 22 de janeiro de 2011. Porisso, vai os agradecimentos ao seu sócio honorário EGD Alberto Bittencourt por ter enviado todo o conteúdo ao grupo GEROI , grupo de discussão sobre Rotary. Essa contribuição, tornou mais fácil trazer aos seus leitores as idéias mais recentes sobre Rotary.
Abaixo a transcrição do primeiro deles:

Conheça a Si Mesmo para Envolver a Humanidade
Kalyan Banerjee
Presidente Eleito do RI

Binota e eu damos as boas-vindas a todos aqui presentes, os líderes dos 532 distritos em
mais de 200 países e regiões geográficas.
Na entrada, vocês devem ter visto a mensagem “Entre para Aprender”. E é isso que vamos
fazer. Nos próximos cinco dias, encontraremos juntos as respostas para as nossas perguntas.
Será uma experiência que lembraremos para sempre.
Talvez este seja o momento apropriado para olharmos à nossa volta. Ao redor de cada um
de vocês há novos amigos. Deem uma olhada. Ele pode ser de outro país, outra cultura, talvez
de outra crença. Ele pode falar uma língua diferente e usar outro tipo de roupa. Apesar das diferenças, há algo comum entre nós: somos rotarianos com as mesmas esperanças e
aspirações, o mesmo sonho de tornar o mundo um lugar mais seguro e feliz. Nos próximos
dias, ao nos conhecermos, conversarmos, vivermos e aprendermos juntos, nossa amizade
se tornará sólida. Cada um de nós está esperando exatamente por isso. Então, por que vocês
não se levantam e cumprimentam as pessoas ao redor? Vamos fazer isso agora.
Obrigado. Este é um dia muito especial para nós, pois estamos com nossos ilustres expresidentes,
diretores, curadores e administradores anteriores, atuais e futuros — todos
líderes de nossa grande organização.
Bom, por onde começar? Vou responder a esta pergunta voltando um pouco na nossa
história.
Foi o ex-presidente do RI Glen Kinross, da Austrália, que iniciou um projeto de moradias de baixo custo no Rotary em 1997-98. Isto levou clubes de Raipur, do distrito indiano 3260, a conseguir do governo local oito acres de terra para que pudessem construir 500 habitações, cada uma delas com cerca de 35 metros quadrados de área, a um custo de US$800  cada. Para a construção de cada casa, Rotary Clubs australianos contribuíram US$300, os cinco clubes de Raipur doaram US$100 e a Fundação Rotária forneceu o restante através de um Subsídio Equivalente. Quando ficaram prontas, os clubes de Raipur divulgaram a notícia no jornal local e receberam 5.000 pedidos de possíveis moradores. Por isso, os rotarianos decidiram que as moradias seriam sorteadas. No dia marcado, os rotarianos e cerca de 3.000 pessoas se reuniram para o sorteio. Eu viajei de Mumbai para participar do evento.
Um dos nomes sorteados foi o de Anisa Begum. Ao ser chamada, uma mulher magra usando um sari branco se levantou e andou até o palco, onde recebeu a documentação.
Mas em vez de voltar, ela pediu aos organizadores se poderia dizer algumas palavras. Sua sinceridade fez um dos rotarianos lhe passar o microfone, dizendo que ela tinha apenas um minuto. A mulher então disse:  “Meus irmãos rotarianos, eu não conheço vocês e vocês também não me
conhecem. Vim aqui para Raipur com meu marido e nossos três filhos pequenos. Morávamos em um pequeno cômodo até o dia em que meu marido chegou e me disse: ‘Anisa, vou deixar você. Encontrei outra pessoa.’  E repetiu três vezes: ‘Talaaq, talaaq, talaaq’, que significa eu me separo de você, e pegou suas coisas e foi embora.” “Perdi o chão. Eu não tinha para onde ir. O dono do cômodo me pôs na rua com as crianças no dia seguinte, porque meu marido não tinha pagado o aluguel. Ficamos perambulando pela cidade, na estação de trem, no terminal de ônibus, e fomos perseguidos por policiais em todo lugar. Dormíamos nas calçadas, junto com cachorros de rua. As crianças estavam  sempre chorando, com fome e doentes. Eu não tinha dinheiro para comprar comida ou remédios e não tinha emprego, a não ser às vezes, quando trabalhava limpando banheiros públicos. Eu estava  absolutamente desesperada.” “Então, alguém me contou sobre o projeto de moradias e foi gentil o suficiente para fazer um pedido por mim, pois não sei escrever. E aqui estou.” Depois de dizer isto, ela se sentou no palco, na frente de milhares de pessoas, e disse: “Irmãos rotarianos, vocês não têm  ideia do que fizeram por mim. Vocês deram uma nova vida para mim e meus filhos. Obrigada, obrigada, obrigada.” Então ela chorou de emoção, assim como, devo admitir, todos nós, porque não conseguimos segurar as lágrimas. Mas com nossas lágrimas, cada um de nós percebeu naquele dia o verdadeiro sentido de sermos rotarianos.
Bom, isso aconteceu 12 anos atrás e, desde então, tive certeza de que se quisermos espalhar esperança, dignidade e confiança neste planeta, não há melhor coisa a fazer do que ajudar o próximo a conseguir um lugar para morar. O lar é o refúgio da família. Mãe e filho são a essência desta instituição. As comunidades em que vivemos não são formadas apenas por pessoas, mas por famílias — famílias que moram juntas, compartilham suas vidas, seus recursos e seus destinos. Boas famílias formam bons bairros, que formam boas cidades. E boas cidades formam grandes nações. É por isso que, no ano que vem, nossa primeira ênfase será a família. E depois, voltaremos nossa atenção a moradias seguras, recursos hídricos e saneamento, assistência médica e todos os problemas que afetam mães e filhos. Para que a família seja forte, é preciso que ela tenha um lar forte e seguro. Só então virão saúde, esperança e harmonia.
Tive o privilégio de trabalhar com Madre Teresa de Calcutá. Foi ela quem disse: O mundo está de ponta cabeça e vem sofrendo muito pela falta de amor nos lares e nas famílias. Não temos tempo para nossos filhos, não temos tempo para desfrutar da companhia uns dos outros. O amor começa no lar — o amor mora nos lares e é por isso que o mundo sofre tanto e está tão infeliz hoje em dia. Todos estão com pressa — os filhos têm pouco tempo para os pais e os pais não têm tempo para os filhos e nem um para o outro — e a falta de paz nos lares leva à falta de paz do mundo.
Então, para alcançarmos a paz, temos que começar em nossos lares, com nossas famílias.
A segunda ênfase será a continuidade, para identificarmos o que fazemos de bom e fazermos ainda melhor: prover água tratada, promover a alfabetização, trabalhar com as Novas Gerações, a nova Avenida de Serviços, ajudando-as a se tornarem os líderes de amanhã. E, claro, continuar nos concentrando na erradicação da pólio. Estamos quase lá. Como disse Desmond Tutu, “Falta só isto”. E devemos continuar trabalhando no nosso Plano Estratégico — ampliá-lo e aprimorá-lo. Devemos também apoiar o Plano Visão de Futuro da Fundação Rotária.
E como desenvolvimento leva à prosperidade, e prosperidade leva à paz, vamos continuar a fortalecer comunidades. Pode ser através de um projeto grande, como a construção de uma represa ou de uma ponte, como clubes da Índia fizeram, ou através de algo menor, como fornecer mesas, ventiladores ou lousas para salas de aula. Ao seguirem em frente, vocês descobrirão que o mais importante não é o tamanho do projeto e sim, sanar uma necessidade. É como eu sempre digo: Os trabalhos difíceis podem ser feitos agora; os impossíveis levarão um pouquinho mais de tempo.
Não devemos nos esquecer dos gestos simples que mudam vidas. Um tapinha nas costas, uma palavra de consolo, às vezes apenas um sorriso já é o suficiente. E vocês perceberão que quase todo mundo retribui esse sorriso. Sorria e o mundo sorrirá com você. Vamos fazer deste ano um ano de  sorrisos, alegria e felicidade, em que cada rotariano e seu cônjuge darão pelo menos três sorrisos por dia. Isso seria o equivalente a oito milhões de sorrisos por dia! Nossa! Na vida, nem sempre podemos realizar grandes feitos, mas sempre podemos realizar coisas simples com grande dedicação.
Acredito que nós, rotarianos, somos idealistas e damos vida aos nossos ideais através do serviço rotário. Vivemos de maneira ética e honesta, seguindo os princípios da Prova Quádrupla, promovendo a boa vontade e a amizade, e vendo o valor de cada ser humano. Não estamos interessados no menor denominador comum, pois o Rotary certamente não é comum. É por isso que nos comprometemos a sermos melhores e, assim, melhorar o mundo.
Desta forma, vamos analisar as coisas que podemos melhorar, coisas que podem ser mudadas, e coisas com as quais ainda não começamos a trabalhar. Acredito que devemos ter sabedoria e coragem para identificá-las e modificá-las. Acredito que estamos no Rotary para mudar o mundo; por que outro motivo seríamos rotarianos? Acreditamos que o futuro será melhor do que o passado. Gosto de citar Mahatma Gandhi, que disse: “Você deve ser a mudança que deseja ver no mundo”. Portanto, nossa terceira ênfase em 2011-12 será a mudança, começando por aquela que desejamos ver no mundo. Se desejamos paz, comecemos vivendo a paz em nós mesmos, nossos lares e nossas comunidades. Se desejamos interromper a degradação ambiental, reduzir a mortalidade infantil ou combater a fome, devemos ser o instrumento de mudança e reconhecer que ela deve começar dentro de cada um de nós. E para realizar mudanças, precisamos pensar de forma inovadora. Precisamos trabalhar em parceria com outras organizações. Sempre senti que o Rotary e a ONU têm um relacionamento simbiótico. Podemos levar esse relacionamento à frente aderindo aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e nos esforçando para atender às necessidades de nossas comunidades. Os Grupos Rotarianos em Ação — trabalhando em áreas relacionadas a recursos hídricos,  microcrédito, prevenção da aids e alfabetização — fortalecerão nosso potencial para servirmos ainda melhor. 
Há duas áreas cujas metas precisarão ser constantemente revisadas. Em primeiro lugar, temos que encontrar mais rotarianos para servir em Rotary. Acredito que é o momento de concentrarmos nossos esforços para atrair uma geração mais jovem, rotarianos da era do YouTube e do Facebook. Eles estão por aí, dispostos a serem convidados, mas precisamos  dar mais espaço a eles. Em muitas partes do mundo, isto está começando a acontecer. Mas é preciso que este movimento se torne universal. E isso certamente acontecerá se dermos enfoque às mudanças de que estou falando.
Outra coisa a que devemos nos ater é divulgar bem a história do Rotary. Com muita frequência, pensamos que por estarmos indo bem, a atenção do mundo está voltada a nós.
Bom, na maioria das vezes isso não é verdade. Mesmo em Evanston, perto da Sede Mundial, muitas pessoas perguntam: “Rotary? O que o Rotary faz?”. Precisamos de uma apresentação planejada, criativa e moderna sobre a história da organização. Jornais e revistas costumam publicar mais notícias ruins do que boas. Por que não mudar esta tendência?
O modo de contarmos as histórias rotárias pode ser diferente de lugar para lugar, de país para país. Mas elas precisam ser contadas, porque o que realizamos com certeza merece ser divulgado. 
Ao nos prepararmos para dedicar um precioso ano de nossas vidas ao Rotary, precisamos entender claramente que cada um de nós tem um papel a desempenhar. Não podemos simplesmente voltar para casa e dizer que tentaremos fazer o melhor possível. Precisamos nos comprometer plenamente e dizer: vou fazer o que deve ser feito.
Sei que vocês se sairão bem, porque possuem determinação e força de vontade. Para alcançar qualquer coisa neste mundo, devemos usar todos os recursos disponíveis. E o único lugar para começarmos é com nós mesmos e dentro de nós mesmos. As perguntas que devemos nos fazer são: Por que estou aqui? Por que vocês estão aqui? A resposta é que buscamos um senso de realização na vida, e as responsabilidades que estamos prestes a assumir fazem parte disso.
E para tanto, devemos estar em harmonia interna e externamente; criando equilíbrio entre nossos desejos internos e nossas ações externas. É por isso que peço a vocês que conheçam a si mesmos, libertem a sua força interior e a usem para envolver a tudo e a todos à sua volta. Depois de conhecerem a si mesmos, sigam em frente com confiança e determinação em direção aos objetivos traçados. Peço a cada um: encontre sua essência, desenvolva sua força interior e, sem hesitar, siga em frente e abrace o mundo para envolver a humanidade. E este, meus irmãos e irmãs em Rotary, será o lema para o nosso ano: Conheça a Si Mesmo para Envolver a Humanidade.
Como faremos isso? Bem, é exatamente disso que temos falado todo este tempo. Todas as luzes do mundo não se comparam ao raio de luz interior de uma pessoa. E eu desejo que a luz do amor e da devoção brilhe em seus corações, que a luz do entendimento brilhe em suas mentes, que a luz da harmonia brilhe em suas casas e que a luz do servir brilhe de suas mãos.
Quero encerrar com uma pequena história. Um de meus livros favoritos é Guerra e Paz, de Leon Tolstoi, que conta a história épica sobre os esforços do exército napoleônico para conquistar a Rússia. Há uma cena no livro em que as tropas francesas estão muito próximas das russas. Dois russos, um oficial e seu amigo, estão conversando. Um diz para o outro: É a força das armas que vence guerras. O oficial diz: Não, eu não concordo. Não acredito que seja a força das armas que vence guerras. Seu amigo pergunta: O que então? O que vence guerras? O oficial fica em silêncio por um momento, e então diz: Acho que o que vence guerras são os sentimentos — os sentimentos meus, seus e dos outros.
Por que estou encerrando com esta história hoje? Porque nós também estamos falando sobre guerra e paz. Mas também porque nos últimos 20 minutos eu venho dizendo a vocês que é com isso que os rotarianos se preocupam: os sentimentos seus, meus e dos outros.
Conheça a Si Mesmo para Envolver a Humanidade. Desejo que, para cada um de vocês, a Assembleia Internacional seja tudo aquilo que imaginaram.











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